A
persona que figura a Oficina de Macacos no post de hoje é o produtor Rich Rok. Este se define como um cara que mistura instrumentais inusitados com batidas de hip-hop e jazz. A aparente simplicidade contida nesse auto-retrato engana. O disco que apresento para vocês tratará de mostrar que Rok na verdade é mais pretencioso que aparenta ser. A mistura de dois grandes nomes do hip-hop contemporâneo é o mote para Rok pincelar essa obra-prima que coloco aqui hoje. O projeto que leva o nome de "MF Doom meets Clutchy Hopkins" já revela o intento da obra: misturar os vocais do rapper MF Doom, detentor de um flow único e métrica caótica, com o hipnótico instrumental do enigmático Clutchy Hopkins, que traz a tiracolo seus rhodes ácidos. O resultado é um encontro singular mediado por Rok. Para a concepção desse projeto o produtor obteve tanto as acapellas originais e inéditas de Doom quanto os instrumentais de Clutchy e de The Misled Children. A coleção portanto traz músicas semi-inéditas. Levam os nomes das originais de Doom, no entanto são revisitadas pela nova roupagem Hopkiniana. Só nos resta dissecar o currículo dos dois principais personagens desta obra antes de apreciar o conteúdo dessa raridade!MF Doom têm se tornado o mais proeminente rimador nos últimos anos. Sua produção dedicada, seus samples inacreditáveis, sua incrível habilidade linguística e a mística que envolve sua imagem como um artista são boas causas que fundamentam o fenômeno. O rapper nascido Daniel Dumile já carrega mais de uma década de hip-hop nas costas. Considero um dos principais arquitetos do Rap. Dumile alicerçou o gênero com tamanha vigorosidade, que a vitalidade do gênero pode ser em parte atrelada a ele. Esqueça todo aquele repetido estereótipo quando se fala de "rap". MF Doom passa longe tanto daquela imagem do gangsta encontrada em 50 Cent, quanto daquela do rapper empreendedor e semi-deus como a cultivada por Kanye West. A definição exata para a sua pessoa seria aquela proferida por ele mesmo, a de "super villain". O cara da máscara de metal que nem nas fotos publicitárias a abandona. Ele não é um bandido, ou um traficante, está mais para um personagem de estória em quadrinhos. Canta sobre diversas coisas da forma mais inteligente, toma de empréstimo o uso de metáforas e referências culturais, exprimindo batidas que tomam as características mais diversas - desde filmes de monstros antigos, jazz clássico e/ou música clássica. Fica a questão: MF Doom é o herói ou o anti-herói do rap dos dias modernos?
Clutchy Hopkins é uma entidade misteriosa. As "conhecidas" estórias acerca de sua pessoa acabam encobertando-o numa condensada neblina especulativa. Quem diabos é o figura? Seria um eremita que mora numa caverna no deserto de Mojave? O filho de um ex-produtor da Motown? Um revolucionário na Nigéria? Seria Clutchy Hopkins o Dj Shadow? Money Mark? Cut Chemist? Enfim, deixo toda essa especulação pra quem gosta, aqui o que importa é a música. E a música de Clutchy é digna de notabilidade. Compõem-se essencialmente de grooves cavalares. Dub, downtempo, reggae, funk, jazz, hip hop, psicodelic, mellow, ambient, soul, world, r&b, tudo isso faz parte da composição sonora. Os teclados vintage Fender Rhodes são indissociáveis de Hopkins e podem ser citados como uma de suas principais identidades. Impossível não ter os tímpanos contaminados por sua música, que já tem sido elogiada pelas resenhas da Okayplayer, URB e Wax Poetics.
1. MF Doom & Clutchy Hopkins - Change the Beat (3:25)
2. MF Doom & Clutchy Hopkins - My Favorite Ladies (3:44)
3. MF Doom & Clutchy Hopkins - Melody (2:40)
4. MF Doom & Clutchy Hopkins - Impending Doom (3:39)
5. MF Doom & Clutchy Hopkins - Vomitspit (3:18)
6. MF Doom & Clutchy Hopkins - Air (3:21)
2. MF Doom & Clutchy Hopkins - My Favorite Ladies (3:44)
3. MF Doom & Clutchy Hopkins - Melody (2:40)
4. MF Doom & Clutchy Hopkins - Impending Doom (3:39)
5. MF Doom & Clutchy Hopkins - Vomitspit (3:18)
6. MF Doom & Clutchy Hopkins - Air (3:21)