
Confortável. Esse é o meu sentimento. É o adjetivo que vem a minha cabeça após ouvir o disco mais recente do João Donato. Também fiquei pensando como ele parece confortável nesse disco. Tão confortável que precocemente o inclui na lista dos discos dos quais jamais vou enjoar.
Em algum jornal, escreveram que o tempo correu e alcançou João Donato porque em 1973 ele já estava em 2014. A partir daí, viajei no quanto a sonoridade que o alcançou era vanguarda quando criada, saca!? Agora, pensa aí no quão difícil é ser contemporâneo sem forçar a barra. Sem ser cópia barata e patética de si mesmo. Donato Elétrico me soou contemporâneo, sem ser pretensioso. Essa conclusão me permite adjetivar esse acriano de 81 anos como genial. Digo sem medo de banalizar tal adjetivo.
As artes em geral me fazem refletir sobre os espíritos indômitos e João Donato é um legítimo representante desses. Que importa ser octogenário? E estar sem um disco de inéditas após mais de uma década e meia? Não significa nada para os que assim são. Livres.
"A gente chama a molecada, mas tem de ter um pajé da tribo", disse em alguma matéria jornalística. Chamou uma "molecada", quase todos seus fãs e discípulos, plugou os sintetizadores e mandou ver. Li em outro lugar que ele fez isso para se energizar, o que não me parece verdadeiro, até porque em algum outro lugar, li sobre a sua abundante energia e seu jeito "deboísta" de encarar a vida. Então concluo que ele fez para compartilhar saberes, energias e experimentos. Deu certo.
Nessa turma, grande destaque para integrantes do Bixiga 70, grupo paulistano. Chamou outras feras, como: Guilherme Kastrup, Bruno Buarque, Gustavo Ruiz, Marcelo Cabral, Beto Montag, entre outros. Em fotos e vídeos, eles demonstram a honra no olhar e na sonoridade singular que entregam.
Nenhuma faixa do disco lançado pelo selo SESC, produzido por Ronaldo Evangelista, Mixado por Victor Rice, Masterizado por Felipe Tichauer, Projeto Gráfico de Rodrigo Sommer, Produção Executiva da Agogô Cultural, me tirou o folego, nem me deu tédio. Não se engane pelo final da frase anterior. Dá pra sentir muita coisa nesse disco além de conforto. Pujança é uma delas. Não tem histrionismo, nem preguiça, por que o virtuosismo está presente de forma precisa e sutil, já que em algum momento tem uma pegada indígena, noutro tem afrobeat e tem até o jazz canônico. E isso eu acho muito foda! Foi isso que me fez usar adjetivos para o autor e para o disco como genial e confortável.

1. João Donato - Here's Jd (6:13)
2. João Donato - Urbano (5:37)
3. João Donato - Frequência De Onda (4:59)
4. João Donato - Espalhado (4:09)
5. João Donato - Tartaruga (4:42)
6. João Donato - Soneca Do Marreco (3:58)
7. João Donato - Combustão Espontânea (4:41)
8. João Donato - Resort (4:19)
9. João Donato - Xaxado De Hercules (5:51)
10. João Donato - G8 (5:17)
2. João Donato - Urbano (5:37)
3. João Donato - Frequência De Onda (4:59)
4. João Donato - Espalhado (4:09)
5. João Donato - Tartaruga (4:42)
6. João Donato - Soneca Do Marreco (3:58)
7. João Donato - Combustão Espontânea (4:41)
8. João Donato - Resort (4:19)
9. João Donato - Xaxado De Hercules (5:51)
10. João Donato - G8 (5:17)
Antonio Carlos Nicolau, 44, é produtor cultural. Suas primeiras impressões musicais estão entre 1980 e 1984 por meio de especiais de TV para crianças (A arca de Noé I e II, Pirlimpimpim, Pluct Plact Zuum). Em 1985, assistiu, também pela TV, o Rock in Rio e logo teve o primeiro LP do Iron Maiden em suas mãos. Desde então vem de sentidos abertos a quase tudo e todos.