Lá se vão vinte anos de estrada. Eu vivia enturmado com a galera da moradia da Unesp de Araçatuba a ponto de estudantes do curso de Veterinária acharem que eu cursava Odonto e vice-versa. Cheguei a ser “expulso” da moradia estudantil, mesmo não sendo unespiano, por pular o muro quase todas as noites para dormir com minha namorada. Ela foi realmente expulsa.
Não sei quando, nem como houve o contato, mas depois de estabelecido, sempre que possível, a galera fazia suas mochilas e iam para a rodovia com placas de papelão, fazendo o sinal de joinha aos viajantes em busca de carona. Sempre rolava o fluxo de cá pra lá, como de lá pra cá.
Quando conheci parte dessa rapaziada, a banda não passava de uma confusão etílica promovida nos finais de festas da Samacô, república de estudantes em Bauru, que ficava na Rua San Martin. Tenho convicção de que minha filha foi concebida em um Carnapeixe, numa barraca montada no meio do pomar do sítio que alugamos para passar o carnaval de 98, já que ela nasceu em dezembro desse ano. Alguns outros casais se formaram e filhos foram gerados dentro dessa atmosfera. Os filhos cresceram, alguns casais perduram até hoje. Eu não tive a mesma sina e me separei alguns anos depois.
A rapaziada tinha uns instrumentos de percussão, que eram tocados à exaustão, embalados pela afrociberdelia do movimento Mangue Beat, Tom Zé, Jamiroquai, Jorge Ben, The Chemical Brothers, Hermeto, jazzes, (classic (rock) nacional) e muitas tantas outras influências musicais. Estava sendo criado o “remelexo”, uma espécie de conceito estético de sonoridade, vestuário e comportamento da banda e os corpos orbitantes.Tenho a sensação que se encontrar alguém desse rolê, o papo vai fluir de boa como se o último tivessem rolado semana passada.
Nesse período, o contato com essa galera foi arrefecendo, mas o “remelexo” foi se ajustando. Apresentações começaram acontecer, assim como as composições. Em 1999, “Aparições” marca o primeiro registro em disco com algumas músicas autorais e releituras. Alguns integrantes saíram, outros entraram. A banda e a sonoridade foram amadurecendo e em 2003, a Mercado de Peixe lançou, “Roça Elétrica”. Antes a banda gravou outros trabalhos, que não aparecem em seu site oficial, mas integram a discografia encontrada por lá.
Entre os mais recentes estão “Territórios Interioranos” é lançado em 2008. Em 2014, chega aos nossos ouvidos, “O Caminho do Peabiru”. Já “Água de Faca” é o mais recente disco da banda. Apesar de escrever essas linhas, não tenho jeito pra fazer aquelas resenhas clássicas, indicando camadas e dando referências porque acho que meu repertório pode ser muito diferente do seu, manja!? Além do fato de não gostar de classificar coisas.
O fato é que há tanta coisa entranhada nesses trabalhos, que eu sugiro além da audição, a pesquisa dos temas elencados neste trabalho. Rola muita referência de outras artes. O cinema, a literatura, as artes visuais estão por aí. Vá devagar, comece pelo nome dos discos, depois das faixas, preste atenção nas letras e sinta o remelexo.
Olha o peixe chegando! Olha o peixe saindo! Mercado de Peixe! Mercado de Peixe! Vamos chegando!

Mercado de Peixe - 01 Agua da Faca (5:14)
Mercado de Peixe - 02 Todos pela Paz (4:37)
Mercado de Peixe - 03 Trilogia em Caipira (3:08)
Mercado de Peixe - 04 Cores Tropicais (4:21)
Mercado de Peixe - 05 Nois e Indio (4:54)
Mercado de Peixe - 06 Trem da Morte (0:51)
Mercado de Peixe - 07 Juan Caballero (5:12)
Mercado de Peixe - 08 Cururu Dub (3:41)
Mercado de Peixe - 09 Desterrados (4:46)
Mercado de Peixe - 10 Deep Barra (5:36)
Mercado de Peixe - 11 Caminho de Peabiru (5:04)
Mercado de Peixe - 12 Monjolinho (2:26)
Mercado de Peixe - 02 Todos pela Paz (4:37)
Mercado de Peixe - 03 Trilogia em Caipira (3:08)
Mercado de Peixe - 04 Cores Tropicais (4:21)
Mercado de Peixe - 05 Nois e Indio (4:54)
Mercado de Peixe - 06 Trem da Morte (0:51)
Mercado de Peixe - 07 Juan Caballero (5:12)
Mercado de Peixe - 08 Cururu Dub (3:41)
Mercado de Peixe - 09 Desterrados (4:46)
Mercado de Peixe - 10 Deep Barra (5:36)
Mercado de Peixe - 11 Caminho de Peabiru (5:04)
Mercado de Peixe - 12 Monjolinho (2:26)
Antonio Carlos Nicolau, 44, com formação em TI, é produtor cultural. Suas primeiras impressões musicais estão entre 1980 e 84 por meio de especiais de TV para crianças (A arca de Noé I e II, Pirlimpimpim, Pluct Plact Zuum). Em 1985, assistiu, também pela TV, o Rock in Rio e logo teve o primeiro LP do Iron Maiden em suas mãos. Desde então vem de sentidos abertos a quase tudo e todos.