QUINTETO VIOLADO: QUINTETO VIOLADO

01/11/2016 Unknown


Em algum momento, a música regional nordestina foi, quase que sorrateiramente, ocupando espaço em audições musicais. Muito disso se deu a partir do manifesto Mangue Beat, mas não começou ali. Começou antes.

Minha avó paterna, assim como minha avó materna, era baiana. A diferença entre as duas era que minha vó paterna tentava manter suas raízes vivas na memória. Eu adorava ouvir Luiz Gonzaga com ela, que, por vezes, me fazia soletrar o alfabeto com sotaque nordestino, assim como cantar o hino nacional nos finais das tardes de domingo. Eu não me incomodava, mas não sabia se gostava. Hoje sei que, sim, gostava e gosto da cultura nordestina.

Uma de minhas tias, morava na casa da frente com minha avó e outra tia mais nova, e ouvia tudo que havia de contemporâneo naquele momento, então cresci estimulado por Maria Bethânia, Fafá de Bélem, Ney Matogrosso, Caetano Veloso, entre outros. Ao se formar, ela participou de um programa do governo chamado Projeto Rondon e prestou serviços pelo Brasil, indo a Amazônia e ao Nordeste, de onde trazia de cocares, colares, arcos e flechas, apitos e uma inúmera quantidade de lembranças que também me estimulavam a cachola.

Já adulto, acontece o Mangue Beat, então ouvi muito Chico Science, Mestre Ambrósio, Mundo Livre S/A e a partir daí, voltei as minhas raízes e passei a ouvir os artistas nordestinos, começando por Luís Gonzaga, Alceu Valença, Dominguinhos, Amelinha, Zé Ramalho, Elba Ramalho, etc... Pouco a pouco fui percebendo traços de jazz em alguns trabalhos, psicodélica em outros, quando conheci dois quintetos: O Armorial e o Violado. Pronto! Não precisava mais ouvir apenas coisas estrangeiras, como Jetro Tull, Yes, Rush, Emerson, Lake and Palmer na procura pela inovação, transcendência e experimentação. Tinha tudo aqui em nossas raízes. Todo nosso folclore poderia me suprir. E supre.

Sobre o Quinteto Armorial vou falar noutra postagem. Mas sobre o Quinteto Violado falo imediatamente, já que esse disco tem uma capa com uma história muito legal, principalmente para que gosta dessa arte. Algum site diz, que o grupo foi formado em 1970 em Recife, PE e se apresentou ainda sem esse nome, que foi um apelido aos músicos, entre eles Roberto Menescal, hoje considerado uma lenda viva da Bossa Nova em todo o mundo. Meio que apadrinhados por Gil e Caetano, logo começaram a mostrar seu trabalho por todo o Brasil e também outros países. Além da música, realizaram trabalhos didáticos, ministrando oficinas de música em escolas pernambucanas.

Outro site conta que a história da capa desse disco também é curiosa. Em 1972, uma banda de hard rock inglesa, chamada Paladin, lançou o disco Charge!, com a mesma capa que vemos abaixo. Reparem que é praticamente idêntica à capa do disco do Quinteto Violado. Quem fez a ilustração do disco do Paladin foi Roger Dean, um ilustrador que assinou as capas de dezenas de discos de bandas progressivas da década de 1970. Parece que a Phillips, gravadora do disco do Quinteto, usou o desenho e ainda introduziu nele algumas alterações, como o chapéu de cangaceiro do cavaleiro. Foi em uma turnê ao Japão que os músicos do Quinteto tomaram conhecimento dessa cópia. A partir daí, os relançamentos desse disco passaram a ter outra capa, com essas aves brancas voando.

De 1972, sendo o primeiro disco do Quinteto Violado, está repleto de clássicos, como “Asa Branca”, de Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira, “Vozes da Seca” e de Luiz Gonzaga e Zé Dantas. Gosto dos arranjos para os clássicos, mas gosto mais da originalidade das composições do grupo.

O grupo já tocou em quase todo o mundo, teve diversas formações e ganhou inúmeros prêmios nacionais e internacionais. Este álbum teve a Direção de Roberto Santanna, Produção de Paulo de Tharso, Arranjos do grupo, Engenheiro de som, Luiz Roberto; Fotografia de Hiroto Yoshioka. O grupo tinha em sua formação: Percussão – Luciano Pimentel; Viola – Fernando Filizola; Contrabaixo – Toinho Alves; Flauta – Sando; Violão – Marcelo Melo.



Dê o play, macaco!
Download | Discogs | Site Oficial

1. Quinteto Violado - Asa branca (Luiz Gonzaga-Humberto Teixeira) (5:43)
2. Quinteto Violado - Freviola (Marcelo Melo) (2:11)
3. Quinteto Violado - Sant'ana (Fernando Filizola) (4:20)
4. Quinteto Violado - Reflexo (L. Pimentel-F. Filizola-T. Alves) (4:30)
5. Quinteto Violado - Imagens do Recife (Deda-Marcelo Melo-Toinho Alves) (2:11)
6. Quinteto Violado - Roda de ciranda (Marcelo Melo-Toinho Alves) (3:13)
7. Quinteto Violado - Baião da garoa (Luiz Gonzaga-Hervé Cordovil) (3:27)
8. Quinteto Violado - Acauã (Zé Dantas) (5:00)
9. Quinteto Violado - Marcha nativa dos Índios Quiriris (Toinho Alves-Marcelo Melo) (4:34)
10. Quinteto Violado - Vozes da seca (Luiz Gonzaga-Zé Dantas) (3:51)
11. Quinteto Violado - Agreste (Fernando Filizola-Sando) (4:26)
12. Quinteto Violado - Grilo (part. Nara Leão) (1:44)
13. Quinteto Violado - Pinga fogo (part. Nara Leão) (2:07)

Antonio Carlos Nicolau, 44, com formação em TI, é produtor cultural. Suas primeiras impressões musicais estão entre 1980 e 84 por meio de especiais de TV para crianças (A arca de Noé I e II, Pirlimpimpim, Pluct Plact Zuum). Em 1985, assistiu, também pela TV, o Rock in Rio e logo teve o primeiro LP do Iron Maiden em suas mãos. Desde então vem de sentidos abertos a quase tudo e todos.

 
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